terça-feira, 11 de outubro de 2011

Você tem que encontrar o que você ama *Transcrição completa do maravilhoso discurso de Steve Jobs na Universidade de Stanford, em 2005

Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Eu nunca me formei na universidade. Que a verdade seja dita, isso é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias.

A primeira história é sobre ligar os pontos.

Eu abandonei o Reed College depois de seis meses, mas fiquei enrolando por mais 18 meses antes de realmente abandonar a escola. E por que eu a abandonei? Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina.

Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: “Apareceu um garoto. Vocês o querem?” Eles disseram: “É claro.”

Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade. E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades. Depois de seis meses, eu não podia ver valor naquilo.

Eu não tinha idéia do que queria fazer na minha vida e menos idéia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu, gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo ficaria ok.

Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz. No minuto em que larguei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam interessantes. Não foi tudo assim romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare-krishna. Eu amava aquilo.

Muito do que descobri naquela época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço. Vou dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada poster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante.

Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas 10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse deixado aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as tivesse.

Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois.

De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença para mim.

Minha segunda história é sobre amor e perda.

Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em 10 anos, a Apple se transformou em uma empresa de 2 bilhões de dólares e mais de 4 mil empregados. Um ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação — o Macintosh — e eu tinha 30 anos.

E aí fui demitido. Como é possível ser demitido da empresa que você criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém para dirigir a companhia. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas visões de futuro começaram a divergir. Quando isso aconteceu, o conselho de diretores ficou do lado dele. O que tinha sido o foco de toda a minha vida adulta tinha ido embora e isso foi devastador. Fiquei sem saber o que fazer por alguns meses.

Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores. Que tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Peckard e Bob Noyce e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um fracasso público e eu até mesmo pensei em deixar o Vale [do Silício].

Mas, lentamente, eu comecei a me dar conta de que eu ainda amava o que fazia. Foi quando decidi começar de novo. Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa.

A Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple.

E Lorene e eu temos uma família maravilhosa. Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple.

Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama.

Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz.

Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.

Minha terceira história é sobre morte.

Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último.” Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa.

Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.

Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.

Há um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h30 da manhã e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas.

Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de três a seis semanas. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas coisas — que é o código dos médicos para “preparar para morrer”. Significa tentar dizer às suas crianças em alguns meses tudo aquilo que você pensou ter os próximos 10 anos para dizer. Significa dizer seu adeus.

Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu operei e estou bem.

Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas. Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá.

Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade.

O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém.

Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.

Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.

E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.

Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid.

Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes de o Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês.

Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras:

“Continue com fome, continue bobo.”

Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos.

Obrigado.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Propaganda política e a Escola dos Urubus

O mundo contemporâneo se tornou um ambiente onde a autoria perdeu o seu valor e fazer benfeito se tornou uma virtude ausente. O mundo da propaganda política e eleitoral é um lugar assim. O marketing político hoje está envolvido numa “fábrica de fakes”. Estamos no tempo do marqueteiro, em que a pessoa ajuda o seu vizinho a fazer uns cartazes de vereador e pronto, já está lá, é marqueteiro, cheio de certezas e nenhum saber acumulado.

Os exemplos são muitos. Tem profissional da pesquisa que muitas vezes sendo o pesquisador da campanha é também o diretor de propaganda. Nesses casos, a pergunta é simples: o pesquisador serve para apontar ou para encobrir os erros e falhas da propaganda eleitoral? Quem viveu essa situação de perto, acha que muita coisa foi pra baixo do tapete.

Tem também o diretor de fotografia: aquele que escolhe a melhor luz, o melhor ângulo, e também descobriu que dá ibope o título de marqueteiro e coloca no currículo sua participação, na realização de campanhas, como diretor de estratégia e definidor de conteúdo. Por isso são comuns programas muito plásticos, sem objetividade estratégica. Sem foco.

Pelo Brasil inteiro muita gente apareceu com diploma de especialista, com curso de 3 dias do  Carlos Manhanelli, em São Paulo, que criou para ele uma entidade dos profissionais de marketing,  e um instituto, tocado por ele, por sua mulher, que é secretária, e pelo filho, que virou instrutor de pesquisa. Todo ano lá vem o mesmo cursinho, anunciado agora pela internet, exibindo exemplos das campanhas de Jânio Quadros enfrentando Fernando Henrique Cardoso... Campanhas de algumas décadas atrás. Há alguns anos fui lá fazer o tal curso, buscar conhecimento, e digo: passem longe desse curso, que não vai levar vocês a lugar nenhum.

E os  administradores? Gestores que se envolveram na organização financeira de campanhas e a partir daí se tornaram donos de agências ou produtoras, aprenderam que poderiam ser o agente pagador, função original deles, e também o prestador de serviço, o marqueteiro, o idealizador de programas eleitorais. A mesma fonte que arrecada e paga é a que presta o serviço e recebe o pagamento. Genial. Seria muito de minha parte exigir que além de ganhar dinheiro soubessem fazer o tal marketing político. Em Goiás, tem gente com esse perfil que realiza campanhas para candidatos diferentes na mesma cidade. Aconteceu em 2008, em duas grandes cidades goianas. Não sei se os clientes sabiam disso.

Via de regra o que tenho visto é isso: não sabem usar os instrumentos que têm em mãos e suas várias linguagens para construir a retórica da campanha, não sabem articular o mesmo conceito em formas diferentes fazendo uma frequ6encia criativa, não conhecem o valor desta frequência, não sabem o melhor jeito de usar as inserções de propaganda, tanto na rotina quanto na época de eleições. Também não conhecem o poder da música e vivem na tecla de sempre dos jingles-clichês, ou então copiam estratégias de modelos musicais recentes: o modelo Obama é o mais copiado dos últimos anos. Não conseguem identificar os movimentos do comportamento dos eleitores, suas ondas,  e nem têm capacidade intuitiva, porque não acumularam experiências eleitorais.

Muitas vezes nem leem os relatórios de pesquisa. Aqui, em Goiás, uma pesquisadora, ao ver seguidamente suas sugestões retiradas da análise dos grupos de qualitativas não serem levadas em conta, fez um teste: colocou pedaços de diálogos de histórias em quadrinhos no meio de seus relatórios. Não houve qualquer reclamação.

Tudo me lembra uma estória do Rubem Alves sobre a Escola dos Urubus, escrita para criticar a educação burocrática e sem capacidade criativa. Os urubus resolveram criar uma escola de canto na floresta e decidiram que quem não tivesse diploma da escola deles não podia cantar – qualquer pássaro que cantasse mais bonito que um urubu, o que talvez aconteça com todas as espécies, não poderia fazê-lo, a não ser que tivesse o diploma. A autoria não tinha valor. Um urubu poderia cantar a porcaria que fosse tendo posse do diploma.

Pra encerrar, então, digo só mais isto: quem contrata a turma da Escola dos Urubus já dá uma demonstração de que não está preparado para estar na gestão pública.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

122 anos de Cora Coralina



Sábado, 20 de agosto de 2011,  seria aniversário de 122 anos de Cora. Melhor seria dizer: foi aniversário de Cora, dado que sua presença,  em produção e criação, ficou, para o refresco da alma. Presto aqui minha homenagem, faço meus agradecimentos pela oportunidade de conhecer alguns de seus versos. E registro um fragmento de Cântico Excelso, que retiro da pérola/livro que ela  chamou de  Vintém de Cobre ( de onde mais poderia sair um nome deste senão dos becos de Villa Boa de Goyaz ?).
Porque Cântico Excelso? Porque aqui ela faz um reconhecimento ao Mestre. Para algúem como eu, que reconhece (e isso aprendi com meu Mestre) que o humano não se faz sozinho,  que o filhote de humano só vira filho por transmissão, que vai além do DNA, por transmissão de um DNA Outro, por transmissão, através da linguagem, de um novo mundo, o Simbólico.
Para alguém se transformar em gente é preciso aprender com outro alguém. Dai a riqueza de cada um estar ligada ao lugar do Mestre.  E Cora sabe disso:  
“…Revivo a velha escola e agradeço, alma de joelhos, o que esta escola me deu,  o que dela recebi.  A ela ofereço meus livros e noites festivas, meu nome literário.
Foi  pela didática paciente da velha mestra que Aninha, a menina boba da casa, obtusa,  do banco das mais atrasadas se desencantou em Cora Coralina.
Lugar de honra para minha mestra e para todas as esquecidas  Mestras do passado. Mestra Silvina – beijo suas mãos cansadas, suas vestes remendadas.”

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A NOVA GOIÂNIA MERECE O NOVO MUTIRAMA


A modernização e a ampliação do tradicional Parque Mutirama é uma revolução do entretenimento, do esporte e do lazer em Goiânia, o que dá continuidade à ideia original que levou à construção do Parque, quando de sua criação. É uma ação que visa aproveitar uma oportunidade e não perder o apoio federal para este passo.
Não é verdade que a Prefeitura está comprando equipamentos usados com preço de novos para o Mutirama. Mas é verdade que, com a renovação do parque, a Prefeitura o transforma num atrativo turístico que coloca Goiânia definitivamente no circuito do turismo regional, o que significa mais recursos, exatamente como estes que estão chegando agora, de R$ 56 milhões, para reestruturação do parque, e que exigiam como contrapartida da Prefeitura o investimento nos brinquedos.
Dentro de seus recursos disponíveis, aproximadamente R$ 30 milhões, a Prefeitura deu um passo largo, está comprando equipamentos,  reformando outros, e comprando ainda usados restaurados, com exigência de laudo de segurança, e garantia, além disso o preço inclui a instalação dos equipamentos, e o treinamento dos operadores.
Depois a Prefeitura poderá continuar ampliando as possibilidades do Mutirama, que será o maior parque público de diversões e apropriado ao turismo do Brasil. Então, a Prefeitura de Goiânia não tinha escolha: ou fazia o seu projeto com os recursos disponíveis, mas garantindo no edital um controle de qualidade, com várias salvaguardas, ou perdia recursos.
Os contratos referentes aos equipamentos do Mutirama estão sob análise do Tribunal de Contas, que é a instituição própria para exercer o controle técnico-jurídico do processo. Há uma nítida intenção de provocar uma discussão política, usando preços colhidos na internet e no exterior, mas os valores apresentados assim são irreais, mesmo quando verdadeiros: não trazem o custo do imposto de importação, não trazem o custo de implantação – como tem os equipamentos que estão sendo adquiridos aqui-, e não trazem a descrição técnica – brinquedos do mesmo tamanho podem ter componentes mais ou menos seguros e duráveis.
Alem disso a prefeitura não tem dinheiro em mãos para ir lá fora comprar.  Ela faz licitação e se uma empresa do mercado não oferecer este produto para a prefeitura, ele não vai ser adquirido, porque a licitação é a única forma. Pelos caminhos confiáveis um trenzinho novo igualzinho ao nosso custa, aqui, sem ser instalado, R$ 1,3 milhão. A reformulação do nosso, com novos temas e conceitos custará R$ 305 mil.
A Montanha-russa superjet, com 320 metros, que não é fabricada no Brasil, foi adquirida e  está sendo reformada por R$ 2,6 milhões. A única adquirida no Brasil nos últimos anos, com partes em madeira, do Hopi Hari, maior parque do Brasil,  de 1.030 metros, custou R$ 12 milhões. Há, no mundo, (basta procurar na internet) montanhas-russas, rodas-gigantes e outros brinquedos com 80, 90, e até 110 anos de uso, na Austrália, Hungria, Dinamarca, Inglaterra, em várias partes dos EUA… Enfim, é uma prática normal, em se tratando de equipamentos tão caros.
O melhor de tudo é que o Mutirama passará por uma revolução sem perder o seu caráter de parque popular, aberto ao povo, às famílias, com opções para todas as idades, com brinquedos gratuitos ao lado dos pagos, que não terão preços absurdos, e ainda há aspectos educativos: o trenzinho, lembrando a história de Goiás, o autorama, trazendo uma pequena representação do mundo... a acessibilidade será total e haverá  espaço para as ciências. Haverá também a integração das artes do parque.
Vem aí um novo Mutirama, que é parte de uma nova Goiânia, que está sendo consolidada. Um modelo de cidade generosa com o seu cidadão, que lhe oferece espaços no centro e na periferia, para o encontro da família, dos amigos, dos namorados, para o lazer das crianças. Com a ampliação, vamos ter um canto de natureza e entretenimento para oferecer também aos nossos visitantes. Que  seja abençoado este  Novo Mutirama, porque ele é de todos nós.

domingo, 7 de agosto de 2011

Eu fui às touradas de Madri !!!!!

Era domingo de San Isidro, em  Madri, cidade bela com sua juventude  a todo instante nas ruas. Um cidade com os ares de festa.  Talvez porque fosse mesmo a semana da festa do padroeiro. Estamos na  Praça  de  Touros de Las Ventas,  como um palácio aberto ao público. Era uma tarde de início de verão,  de bom sol, mas muito vento, um certo frio, e senhores e senhoras de todas as idades, muitos já alem dos sessenta ou setenta, formando casais, com  almofadas especiais nas mãos – típicas de quem vem sempre às touradas. Gente bem vestida, com uma certa nobreza.

A chegada do presidente da  tourada é saudada pelos presentes.  Logo uma solenidade registra a entrada dos toureiros e suas trupes: cada toureiro enfrenta dois touros na tarde/noite. Nas tardes de San Isidro, em Madri, entram na arena 6 touros.  Há toureadores que não enfrentarão os animais, mas apenas vão ajudar a distraí-lo e cansá-lo. Eles aqui aparecem com capas rosa escuro, enquanto os toureiros virão sempre com uma capa vermelha, e em roupas com detalhes dourados incomparáveis.

Participam da cena  os cavaleiros –  seus  cavalos têm imensas proteções, vermelho-alaranjadas- , que são os picadores: com longas lanças eles fustigam o touro sempre num único lugar e vão ajudando a minar a besta  e a medir sua “competência“ para a batalha.  E também os “banderilleros” que Irão cravar três  pares de “banderillas” – como um tipo de bandeirinha com o mastro mais grosso e pontas afiadas – no animal , tudo para ir provocando e enfraquecendo o animal.

O touro mais presente nestas corridas é o Miúra, que se tornou uma mistura de raças de touros bravos da Andaluzia feita por Dom Eduardo Miura, mais ou menos na  metade do século XIX.  É a raça que mais já matou toureiros e que até já chegou a provocar uma greve de toureiros, que não queriam mais os Miúra na arena.  Alem da seleção genética, estes animais são especialmente criados para manter o seu estado natural de animais selvagens, inclusive evitando-se ao máximo o contato com  os humanos. São mesmo feras. Bestas. E isso dá para ver quando entram na arena.  Dá para ver também quando investem alucinadamente contra os cavalos com suas imensas proteções  vermelho-alaranjadas. O touro ergue o cavalo com os chifres, mas não consegue feri-lo, enquanto recebe de volta estocadas com as lanças dos  picadores.

Tudo se parece com um espetáculo clássico do teatro, talvez um ópera: tem uma fidalguia  em tudo. Há os lenços brancos: é com ele que o público conversa com o presidente da tourada, pedindo a troca do touro que demonstra fraqueza, exigindo que se pare de fustigar um animal quando há exagero e até pedindo pela vida do touro, quando ele demonstra bravura.

Posso dizer: eu fui as touradas de Madri, lembrando a música de Braguinha e Alberto Ribeiro. Numa tarde onde os touros estiverem meio lentos, logo na  minha estréia, e os toureiros burocráticos, inclusive  Morante de La Puebla, ídolo, grande toureiro segundo os espanhóis.  Parecia que assim seria.

Pois foi na última peleja que vi algo,  que nunca mais esquecerei: o touro as uns 15 a 20 metros do toureiro, provocado, embala. Dizem que nos primeiros 25 metros a arrancada é veloz como a de um cavalo.  Quando, com seus 540 quilos,  o animal estava próximo do toureiro, o jovem mexicano Arturo Saldivar, ousadamente, move a sua capa, da lateral esquerda do seu corpo para a lateral direita. O touro investe é contra a capa, não contra o toureiro.  Este movimento, quando o touro já está muito próximo, faz com que o animal tenha que mudar de direção abruptamente, indo rumo à capa, n outra lateral. Como Romário no chute de Branco, que na copa de 1994 resultou em gol do Brasil contra a Holanda,  Saldivar mantém a capa na posição, mas vira o corpo, e faz dele uma curva só, um arco, tirando-o do caminho do touro, em velocidade.  Simplesmente sensacional.  Uma dança, um drible.

O que fez a beleza da tourada não foi a agressividade do touro, mas a do toureiro, sua ousadia. Sua habilidade foi tão  marcante quanto a  de Romário na copa do mundo, mas, entre eles, uma diferença fundamental: para o mexicano Arturo Saldivar, errar  seria morrer.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

É MAIS DO QUE FUTEBOL !


Paulo Faria

Nos últimos dias, um gesto do atancante Kleber do Palmeiras, que continuou uma jogada mesmo com um adversário estirado ao chão – era uma partida do campeoanto brasileiro, não me lembro qual o adversário -  fez vir a tona a história do fair play, o jogo limpo, história que eu não conhecia.  E que além de bela, me faz pensar até mesmo como se fez e como se faz  o meu desejo de me apresentar como botafoguense.
 A história do fair play eu encontreu num blog chamado “Mundo Botafogo”, onde Rui Moura narra a coisa mais ou menos assim:
“Em 27 de Março de 1960, durante um disputado Clássico Vovô, pelo Torneio Rio-São Paulo, Pinheiro (do Fluminense) disputou uma bola com Quarentinha (do Botafogo) no início do segundo tempo e caiu com uma distensão muscular. A bola sobrou para Garrincha, que invadiu a área e podia fazer o gol. Mas o que fez o imprevisível Garrincha nesse momento que se tornou sublime? Vendo Pinheiro caído, e como se fizesse a coisa mais natural do mundo, atirou tranquilamente a bola para fora a fim de Pinheiro ser assistido, e apesar de estar no meio do incêndio das paixões de um clássico...
O lance já teria sido belo e eterno por si mesmo, mas não parou aí. O tricolor Altair, encarregado da cobrança do lateral, compreendeu que tinha que retribuir e simplesmente deixou a bola quicar. E a bola foi do Botafogo. Todos no estádio aplaudiram o fabuloso lance...”
Achei lindo também. Achei que é bom ter coisas assim para parecer que o cuidado com a vida predomina, mesmo  “no meio do incêndio das paixões”. Achei Garrincha genial, mesmo que  ele não soubesse disso. Não importa que ele não soubesse a grandeza do ato.  Importa que descubro por aí a minha veia botafoguense.
Não é tanto pelo futebol, embora confesse que gosto muito, demais, principalmente do futebol bem jogado, daquele dos craques, mas tem alguma coisa a mais na identidade, minha, alvi-negra. Gostei  desde o dia em que ganhei de meu pai, aos 6 anos,  um jogo de futebol de botão, do Botafogo,  que tinha, entre outros, Jairzinho, que acabara de ser “o furacão da copa”, a de 1970.
          Hoje gosto ainda mais, de um outro Botafogo, por causa das histórias de gente muito genial, gente que produziu, cada pessoa a seu modo, muita graça e poesia: Garrincha e seu fair play,  Armando Nogueira, Nilton Santos... gente que fez brotar histórias que me fizeram amar,  mesmo com  poucos campeonatos vitoriosos, e a ausência de novos craques,  a poesia que exala deste lugar que meu amigo, e desconhecido, Rui Moura, chama de  “Mundo Botafogo”. 

quarta-feira, 27 de julho de 2011

“O profissionalismo como religião”

(Texto “brilhante” de Claudio de Moura Castro – Revista Veja 01/06/2011)
       Logo que mudei para a França, tive de levar meu carro para consertar. Ao buscá-lo, perguntei se havia ficado bom. O mecânico não entendeu. Na cabeça dele, se entregou a chave e a conta, nada mais a esclarecer sobre o conserto. Mais à frente, decidi atapetar um quartinho. O tapeceiro propôs uma solução que me pareceu complicada. Perguntei se não poderia, simplesmente, colar o tapete. O homem se empertigou: ”O senhor pode colar, mas, como sou profissional, eu não posso fazer isso”. Pronunciou a palavra “profissional” com solenidade e demarcou um fosso entre o que permite a prática consagrada e o que lambões e pobres mortais como eu podem perpetrar.
     Acostumamo-nos com a idéia de que, se pagamos mais ou menos, conseguimos algo mais ou menos. Para a excelência, pagamos generosamente. Mas lembremo-nos das milenares corporações de ofício, com suas tradições e rituais. Na Europa, e alhures, aprender um ofício era como uma conversão religiosa. O aprendiz passava a acreditar naquela profissão e nos seus cânones. Padrões de qualidade eram cobrados durante todo o aprendizado. Ao fim do ciclo de sete anos, o aprendiz produzia a sua “obra prima” (obra primeira), a fim de evidenciar que atingira os níveis de perfeição exigidos.
     Em Troyes, na França, há um museu com as melhores peças elaboradas para demonstrar maestria na profissão. Carpinteiros alardeavam o seu virtuosismo pela construção meticulosa das suas caixas de ferramentas. Na Alemanha, sobrevivem em algumas corporações de ofício as vestimentas tradicionais. Para carpinteiros, terno de veludo preto, calça boca de sino e chapéu de aba larga. É com orgulho que exibem nas ruas esses trajes.
     Essa incursão na história das corporações serve para realçar que nem só de mercado vive o mundo atual. Aqueles países com forte tradição de profissionalismo disso se beneficiam vastamente. Nada de fiscalizar para ver se ficou benfeito. O fiscal severo e intransigente está de prontidão dentro do profissional. É pena que os sindicatos, herdeiros das corporações, pouco se ocupem hoje de qualidade e virtuosismo. Se pagarmos com magnanimidade, o verdadeiro profissional executará a obra com perfeição. Se pagarmos miseravelmente, ele a executará com igual perfeição. É assim, ele só sabe fazer bem, pois incorporou a ideologia da perfeição. Não apenas não sabe fazer de qualquer jeito, mas sua felicidade se constrói na busca da excelência. Sociedades sem tradição de profissionalismo precisam de exércitos de tomadores de conta (que terminam por subtrair do que poderia ser pago a um profissional com sua própria fiscalização interior). Nelas, capricho é uma religião com poucos seguidores. Sai benfeito quando alguém espreita. Sai matado quando ninguém está olhando.
     Existe relação entre o que pagamos e a qualidade obtida. Mas não é só isso. O profissionalismo define padrões de conduta e excelência que não estão à venda. Verniz sem rugas traz felicidade a quem o aplicou. Juntas não têm gretas, mesmo em locais que não estão à vista. Ou seja, foram feitas para a paz interior do marceneiro e não para o cliente, incapaz de perceber diferenças. A lâmina do formão pode fazer a barba do seu dono. O lanterneiro fica feliz se ninguém reconhece que o carro foi batido. Onde entra uma chave de estria, não se usa chave aberta na porca. Alicate nela? Nem pensar! Essa tradição de qualidade nas profissões manuais é caudatária das corporações medievais. Mas sobrevive hoje, em maior ou menor grau, em todo mundo do trabalho. O cirurgião quer fazer uma sutura perfeita. Para o advogado, há uma beleza indescritível em uma petição bem lavrada, que o cliente jamais notará. Quantas dezenas de vezes tive de retrabalhar os parágrafos deste ensaio?
     Tudo funciona melhor em uma sociedade em que domina o profissionalismo de sua força de trabalho. Mas isso só acontecerá como resultado de muito esforço em lapidar os profissionais. Isso leva tempo e custa dinheiro. É preciso uma combinação harmônica entre aprender o gesto profissional, desenvolver a inteligência que o orienta e o processo quase litúrgico de transmissão dos valores do ofício.

Em tempo: amadores não formam profissionais.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Como me tornei santista - ARRIGO BARNABÉ reprodução de artigo

EU TINHA, TALVEZ, uns cinco anos. Meu irmão mais velho, Marcos, já tinha um time: era corintiano -na esteira do campeonato do quarto centenário, quando o Corinthians foi campeão.
Meu pai era Palmeiras, mas o que ele gostava mesmo era de futebol. Havia jogado quase profissionalmente e era craque. O pobre coitado só teve filho perna de pau. Mas, curiosamente, incentivava a criançada a torcer por outro time. Devia ser porque, gostando tanto do esporte, queria torcer (na carona dos filhos) para outros clubes...

E chegou um momento em que tivemos uma conversa de homem para homem. Já estava mais do que na hora de eu escolher um time. A casa já tinha um corintiano, e eu adorava o distintivo do Corinthians, em que se destacavam a âncora, o timão (na verdade, uma boia) e a cor vermelha. Achava lindo!
Então meu pai me apresentou um brinquedo que consistia em um pequeno disco de plástico transparente. Havia ali dentro uma bolinha prateada solta. No disco, dois jogadores desenhados em posição de chute e, na ponta da chuteira de cada um, uma depressão para a bola se encaixar. O objetivo era encaixar a bola na chuteira.

Um dos jogadores era negro, usava um uniforme vermelho e verde. Adorei. O outro era um jogador branco, mas de uma cor branca enjoada, com uniforme todo branco, muito sem graça.
É claro que eu ia torcer para o time do jogador negro de uniforme vermelho e verde. Mas uma fração de segundos antes de decidir, perguntei a meu pai qual era o nome dos times. -Este aqui é Portuguesa, e o outro, Santos.

Gostei muito do nome também, Portuguesa. Achei legal. Existem nomes que atraem a simpatia das crianças, não sei por quê.

Mas o nome Santos era poderoso. Eu já conhecia a ideia de santo. Meu pai e meu avô materno já me haviam explicado. "Um santo é uma pessoa que só faz o bem, que é tão boa que vive junto a Jesus e Deus lá no céu..." Eu havia ficado muito impressionado que houvesse pessoas assim, achava alguma coisa além do bonito, além da mera beleza: era maior, um santo, era uma coisa extra.
Daí perguntei ao meu pai:

-Mas por que o time se chama Santos? É por que tem muito santo lá?

Meu pai, achando graça, disse:

-É, sim, só tem santo no time...

Então, fiz uma renúncia, um sacrifício. Sacrifiquei meu gosto, que era a Portuguesa, para torcer por um time que eu achava sem graça, sem colorido, com um distintivo feio, mas que, no fim das contas, era um time de santos"¦ E Deus, lá em cima, vendo meu sacrifício e desprendimento, me abençoou, fazendo com que o time que escolhi se tornasse o maior de todos os tempos.

Eu sei que foi antes do Pelé virar o "Pelé". Lembro-me de nomes desse período, nomes, esses sim, de que eu gostava, como Urubatão e Pagão. Lembro-me de Vasconcelos, Tite, Del Vecchio, Pepe, Manga.
Algum tempo depois, ouvi pela primeira vez "Assum Preto", com Luiz Gonzaga. Meu pai havia comprado o disco e o trouxe para casa, à tarde, voltando do trabalho. (Naquele dia, o Santos havia perdido para o Taubaté por 3 a 2.)

Quando colocaram o disco na radiovitrola e começou o "Assum Preto", aquela coisa de furar os olhos do pássaro, com a voz pungente do Gonzaga, comecei a chorar. Então meu pai perguntou se eu estava chorando por causa da música ou pelo fracasso do Santos diante do Taubaté.
Envergonhado pelo choro provocado por uma canção, menti. Disse que estava chorando pela derrota do Santos. E dessa mentira nunca mais me esqueci.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Gerúndio também pode

Vejam só. Estou lendo um edital de propaganda do Governo da Paraíba e está lá uma velha questão, no briefing de uma campanha a ser criada para uma concorrência pública: o Governo pede para que se evite o uso do gerúndio. Em publicidade, sempre se propagou o uso do gerúndio como um impropério e, atualmente, há em curso no país uma luta insana contra o que se batizou de gerundismo. Eu – que, há dez anos, tenho acompanhado com mais atenção o uso do gerúndio na propaganda de Governos – fico horrorizado com essa tentativa tão ascética de limpeza da língua. Fica parecendo que temos algum controle sobre isso.
Na gestão do Prefeito Pedro Wilson, em Goiânia, se usou o slogan “Você fazendo parte”, que me chamou a atenção pela clareza da informação e pela continuidade que o gerúndio nela presente indicava. Depois, tive acesso às pesquisas qualitativas sobre aquela gestão, que mostraram a aprovação da população para a marca e para o slogan. Pude presenciar, em outros momentos, a mesma ocorrência: em Palmas, a Prefeitura realizava uma boa gestão, mas não fazia uma boa comunicação, tinha baixa aprovação popular e a população achava que ela trabalhava, que fazia a sua parte, e a Prefeitura, não. Era o que indicavam as pesquisas. Fizemos um trabalho de prestação de contas das ações e criamos um slogan que ia direto à questão: “Prefeitura de Palmas, trabalhando para você”.
Dois anos mais tarde, andando no metrô de São Paulo, vejo cartazes do Governo do Estado com o seguinte mote: “Trabalhando por você”. Pensei: não estou tão só assim em minhas convicções. Meu pai, seu Geraldo Faria, professor de Português, ainda me disse: “‘Para você é melhor. ‘Por você’ parece que um está fazendo a parte do outro”. Em Minas Gerais também encontrei a equipe do então governador Aécio Neves “cometendo o crime dos crimes com o slogan “Construindo um novo tempo”.
Admito que o gerúndio se tornou uma parte chata do dia a dia. Os call centers nos amolam todo o tempo com a fraude de um “estarei encaminhando sua solicitação dentro de alguns minutos”, ou algo assim. Por que será então que a moça do call center não fala simplesmente “encaminharei a sua solicitação” ou “vou encaminhar”? Desconfio que seja por retórica, para aproveitar, mesmo que forçando a barra com uma expressão tão comprida, o que o gerúndio tem de melhor, a ideia de uma ação em andamento. É como se a moça do call center já estivesse fazendo o que ela ainda vai fazer – se fizer.
O gerúndio continua tendo no mundo da língua a sua função, de indicar uma ação acontecendo, e desempenha um ótimo papel, dependendo das circunstâncias, na propaganda de Governo que tem que mostrar trabalho, movimento, ação. O ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, criou uma lei, o Decreto nº 28.314, com os seguintes artigos: Art. 1o. Fica demitido o gerúndio de todos os órgãos e do Governo do Distrito Federal. Art.2o. Fica proibido, a partir desta data, o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência. Vejam só, Arruda foi cassado por improbidade e não conseguiu acabar com a ineficiência proibindo o gerúndio. A questão era outra.
Por fim, encontro o professor José Augusto de Carvalho, no site conhecimentopratico.com.br, fazendo a discussão do assunto com outro olhar. Vejam o que ele diz: “Em lugar de ensinar os funcionários a usar o gerúndio, resolve-se o problema banindo-o da língua, como se a língua tivesse um só dono…”. A língua, é o que vejo, a rigor, não tem dono. Se faz no dia-a-dia. E de meu pai ainda ouvi mais isso: “A língua é viva. Se o uso se consolida entre as pessoas, todos vão ter que incorporar até mesmo o que for considerado como o modo errado hoje, considerar como língua padrão.”
E eu, que já aprendi mais algumas coisas na vida – depois de velho aprendi a aprender – digo que a língua é uma produção que cria o mundo humano, ela não está sob nosso domínio, não se altera por decreto. Como parte dela, o gerúndio não está aí para ser banido de maneira obsessiva, como se isso fosse possível, e como se a questão não fosse sempre o desejo de quem faz o uso da língua.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

o Boto Navegador

Revendo uns arquivos antigos me deparei com uma foto minha acompanhando a gravação de um programa de TV do Ex governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, naquela ocasião, 1998, candidato ao Senado. Eu estava naquela época, dirigindo os programas eleitorais do governador, à época, Amazonino Mendes, candidato à reeleição. Mestrinho, quase uma lenda no Amazonas, viveu uma grande virada de marca digna de registro. Era chamado de “o boto”, numa referência a “Lenda do Boto”, que conta a estória do peixe que à noite se transforma em homem e encanta e atrai todas as mulheres. Resumindo, Mestrinho era tido como mulherengo e isso virou um apelido. Numa determinada campanha, anterior àquela em que eu estava, alguém da assessoria do ex-governador propos uma virada, uma grande jogada que transformou o apelido dúbio numa verdadeira marca política de qualidade indiscutível. Durante aquela campanha Mestrinho, nos programas e no discurso, incorporou o apelido, com um acrescimo: ele agora era o “Boto Navegador”, aquele que aponta o caminho para as embarcaçoes. O apelido agora indicava o líder que apontava o caminho. Genial. E vingou.
Para Goiás, este ano, a Casa Brasil ousou, e propôs que se fizesse como marca de governo algo semelhante. As pesquisas durante o período eleitoral mostraram que um olhar negativo que havia sobre gestões anteriores do governador Marconi Perillo ganharam uma metáfora - talvez plantada pelos adversários - entre as suas obras: o Centro Cultural Oscar Niemayer, que seria um exemplo de obra não acabada.
O novo governo não só contesta esta idéia como anunciou um plano para resgatar a imagem do Centro Cultural. Com base neste plano, propusemos ousadamente uma logomarca, com duas possibilidades, criadas aqui na CB, que propunha a imagem do CCON na logomarca. Uma inversão estratégica: a boa avaliação do governador e a confiança nele depositadas pela população seriam usadas para dar peso à uma marca que inicialmente seria mal avaliada em qualquer pesquisa, mas que, diante da recuperação da imagem do CCON, e desta já detectada boa avaliação de governo, geraria uma marca positiva.
No slogan propusemos “ Estado de Goiás, a Força do Brasil”. O slogan que o governo adotou é “Governo de Goiás, a Força do Coração do Brasil”. Colocamos Estado de Goiás, ao invés de Governo, porque o Estado é maior que governo, é mais forte, e, de outro lado só pode falar pelo Estado o governo, a autoridade constituída, então falar Estado acaba remetendo ao Governo. Porque a Força do Brasil? Porque o Centro Oeste é a última grande fronteira agrícola do mundo, onde os Brics estão vindo buscar comida e energia, e onde desejamos que Goiás seja a liderança regional que vai fazer a diferença. Na imagem da logo, propusemos as duas marcas que vcs podem ver, do Edson e do Rafa, diretores de arte da CB, uma tradicional e outral moderna, cada uma com um caminho diferenciado, ambas muito goianas. Mas ainda não foi desta vez

que pudemos aproveitar aqui o exemplo do Boto Navegador. Fica para próxima.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Contando Histórias: O discípulo procura o mestre

Minha Musa me disse que tenho que contar histórias. Ai vai uma. O josé Batista Júnior, o Júnior do Friboi,  contou esta recentemente: ele já estava crescendo a empresa e tinha vontade de conhecer seu Geraldo, o dono do Bordon, a época o maior produtor de carne do Brasil, mas em dificuldades. Jr se aproximou do seu Geraldo tentando alugar a unidade desativada da Bourdon em Anápolis. Ele visitava o seu Geraldo e não conseguia alugar a unidade, e aproveitava pra voltar lá e esticar a conversa. O Seu Geraldo começou a leva-lo para as reuniões da empresa e mandava os diretores ouvirem o que o Jr dizia. O que ele dizia? "- Eu dizia ou que eu ouvia do seu Geraldo, que eu fui aprendendo e passei a repetir", conta o próprio Jr, que entendeu, então, que ele era o único que prestava atenção naquelas conversas. Um dia seu Geraldo lhe disse:"- você é o filho que não tive. Vou lhe ensinar o caminho, você vai comprar a swift ( a gigante americana que havia ocupado a América do Sul), aqui, na Argentina, no Uruguai, e depois você vai comprar ela lá nos Estados Unidos e vai ser o maior produtor do mundo". A JBS do José Batista Júnior é hoje a maior produtora de proteína animal do mundo.