segunda-feira, 5 de março de 2012

Mais um momento efêmero de perfeição para Nadia Comăneci

Ela tinha 14 anos e eu, 12. O ano era 1976. Ela estava em Montreal, Canadá, disputando sua primeira olimpíada. Coração de criança, o meu, colado na TV, empolgado com o clima olímpico. Eu também estava lá de alguma maneira, acompanhando todos os esportes, inclusive este, a ginástica artística, com o qual não tinha qualquer intimidade.

Ela, com uma graça que sequer parecia permitida no esporte, foi a primeira atleta da ginástica a receber nota dez, que representa o reconhecimento de desempenho perfeito. Foi uma coisa muito marcante, notícia no mundo todo. Penso que foi exatamente a mistura de excelência na execução dos movimentos e da coisa de criança, que ela não perdeu durante as apresentações, a inocência, que possibilitaram esta imensa repercussão.

Comăneci, assim, com este acento estranho no nome, de origem romena, tem um currículo invejável: 9 medalhas olímpicas, 4 vezes campeã mundial, 12 vezes campeã europeia, entre outras tantas coisas. Viveu tudo isso em pleno regime comunista, na Romênia, ainda nos tempos da “Cortina de Ferro”, e acabou fugindo e se radicando nos Estados Unidos, onde nunca deixou de militar no mundo da ginástica,

Para minha surpresa e saudade, revejo a moça, agora com 50 anos – vai fazer 51 em novembro – numa entrevista nos canais esportivos de TV a cabo e, para começar a entrevista, o repórter tasca a pergunta que parece mais o canto da sereia: “Como você vê a história de ter sido a atleta perfeita?”. Essa é a hora em que os reis são depostos e que o herói pode escorregar para sempre. Mas Nadia Comăneci mostra que a mestria não a abandonou.

Ela responde dizendo que o conceito de perfeição é muito complexo e, no esporte, o que mais se aproxima disso é o fato de se alcançar, em algum momento, uma marca superior ainda não registrada, mas que daí a alguns segundos ela talvez já seja superada. No esporte, segundo ela, mais cedo ou mais tarde, uma marca será superada. Touché.

O restante da entrevista mostra uma mulher lúcida, entregue até hoje ao seu compromisso com a ginástica, dizendo que aquele momento, há 36 anos, foi o mais marcante da sua vida de atleta, mas que em todas as olimpíadas às quais ela vai – foi a todas desde aquela – vive emoções fortes, e está ansiosa para chegar a Londres este ano, e ao Brasil, em 2016. Perfeita, mais uma vez, por um instante que seja.

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