sábado, 2 de outubro de 2010

O Colégio Santa Clara em Goiás




O Colégio Santa Clara - 2005

            As irmãs da Ordem das Franciscanas de Dilligen ( Alemanha) chegaram a pequena  Campinas em 17 de outubro de  1921, embora haja o registro de Rosarita Fleury, ilustre ex-aluna, de que  tal data teria sido em 4 de outubro. Para cá vieram, no primeiro grupo, as Irmãs Maria Bonifácia Vordermayer, Maria Benedita Tafelmeier, Maria Ludmilla Schoropp e Maria Willibalda Mayer. Era  a primeira congregação das Franciscanas estabelecida fora da Alemanha.
 As religiosas vieram de Au am Inn, na Baviera, atendendo a um apelo  dos Redentoristas. Pe. Matias Prechtl,  provincial dos Redentoristas de Gars, na Alemanha,  retornando de uma visita ao Brasil, em 1920, fez a solicitação de uma missão da congregação para o Brasil, para trabalhar na catequese e na escola paroquial. O pedido era atendido no ano seguinte.
            É Rosarita Fleury que nos dá uma imagem das irmãs, em texto que apresenta o livro O Colégio Santa Clara e sua Influência Educacional em Goiás, de autoria da Irmã Áurea Cordeiro de Menezes: “O Hábito era lindíssimo,  e, pela conformação do véu,  possuía o dom de emprestar elegância a quem o  usasse. Isto, sem falar no  fato de que as professoras que conheci naquela época eram naturalmente elegantes. Modelo tirado da Idade Média, era o hábito confeccionado em tecido negro. Cobrindo a cabeça havia  uma touca branca;  sobre a testa, uma tira engomada,  também branca,  e a ocultar o pescoço, o envoltório branco, todo plissado com a mão...”

O Casarão
            As irmãs foram recebidas com festa em Campinas e foram morar em um casarão  de sete cômodos, cedido pelo senhor João Rita Dias e sua mulher Júlia Duarte Dias, que foram morar numa casa ao lado.  Esse casarão fica hoje no número 934, na avenida Perimetral, hoje bairro de Campinas. No mês seguinte, elas se mudaram para outro Casarão,  no largo da Matriz, comprado pelo município, onde seria formado o convento. A construção do Colégio começou em  dezembro.
 Há registro de alunas para a escola primária já em janeiro de 1922. Os grupos escolares no Estado, eram  apenas cinco em 1924.Daí a importância do Santa Clara. Antes dos grupos, havia apenas as escolas que misturam séries, por falta de espaço e professores.

Educação Para a Vida
          O Santa Clara foi o segundo educandário a manter o regime de internato para meninas em Goiás.O primeiro era o Colégio Santana, fundado pelas irmãs Dominicanas Francesas, na então capital, Goiás. Já em 1926 foi criado no Santa Clara o curso normal, em 1946 o ginasial, e  em 1952 o curso de contabilidade.
            Além das letras e da matemática, da história, da geografia e das ciências, havia um ensino amplo. Aula de piano, trabalhos manuais, pintura, artes dramáticas, aulas de oratória, a oficina de sapataria,  o coral -  que dava o tom solene às cerimônias da época -,  e a horta, que chegou a receber diploma de Mérito do Ministério da Agricultura. As alunas também conviviam com as missas em Latin e até com o cinema, que chegara ao colégio já em 1925.
Mary Yazigi,  interna no Santa Clara entre os anos de  1945 e 1953, conta, no livro de Irmã Áurea, a impressão que o preparo das irmãs-professoras deixou em sua memória: “...As irmãs estavam preparadas, mas algumas, como Irmã Maria Augustina, estavam muito adiante do seu tempo. Até hoje admiro a cultura daquela freira. O interessante é que esta cultura primava tanto pela variedade quanto pela profundidade.”Com o tempo as alunas do Santa Clara  tornaram-se presenças marcantes no mundo intelectual e das artes em Goiás.


Box
Redentoristas e Franciscanas
            A presença das Irmãs Fransciscanas  em Goiás se deve muito à congregação do Santíssimo Redentor. Foram eles que solicitaram a vinda das Irmãs para o trabalho de catequese e formar a escola pastoral. Quando aqui chegaram, estavam já acompanhadas do superior Redentorista em Campinas, Pe. Carlos Hidelbrand, que as fora esperar em São Paulo.
            Naquele  início  difícil faltava luz, água encanada, médico ...
os redentoristas ajudavam em tudo, inclusive, nos pequenos problemas caseiros dos primeiros tempos, era a eles que elas recorriam em busca de auxílio.
            A administração de uma ação pastoral  tão distante da sede da Congregação gerava problemas quando as decisões precisavam ser rápidas, num tempo em que as comunicações não eram como hoje.  Assim da própria sede, na Alemanha, veio a orientação para a independência , oficializada pela Igreja em  4 de outubro de 1972. As “nossas” Franciscanas de Dilligen se tornariam as Franciscanas da Ação Pastoral, uma congregação brasileira.

O fim do Internato ( outro Box)
            Com o surgimento de escolas por todos os cantos do Estado, a idéia de internato começava a perder a importância. A partir de 1968 o Santa Clara deixou de receber novas internas. As visitas, que antes eram poucas, e as saídas, que nos primeiros tempos eram apenas a cada 15 dias e só na companhia do pai, se tornaram mais freqüentes.
            Já em 1963 desaparecia a saia de casemira azul, que um dia fez Leonel Brizola, em uma visita à cidade,  fazer o seguinte comentário: “tudo na vida sobe, menos a barra das saias destas alunas”. O uniforme tornou-se um vestido xadrez prático, para o dia-a-dia. O uso de pintura e esmalte já não era mais problema. As irmãs  trocaram o hábito pelas vestes seculares. Em 1970 estava fechado o internato do Santa Clara.

Fonte: Menezes, Irmã Áurea Cordeiro – O Colégio Santa Clara e sua Influência Educacional em Goiás ( 1981)

2 comentários:

  1. Que bom ler tudo isso e rever cada passagem da minha infacia em minha memoria. Caro Paulo Faria, estudei no Santa Clara de 1972 a 1979 e estou tentando reunir meus colegas dessa epoca e ao fazer uma busca pelo google deparei-me com seu blog. Adorei, e se tiver mais materia que nos enriquca o grupo ficaremos felizes. Colocarei o link do seu blog para que todos leiam sua publicacao ato rica de detalhes e a mim tao saudosa. Beijos e muito obrigada!

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