sábado, 2 de outubro de 2010

Poesia proseada



      muito surgiu um modo de escrita que exercito com especial prazer e que me invade quando algo  do mundo me toca. 
Não é poema. Prosa talvez, um pouco quebrada.
    Um dia então mostrei algo a meu pai, que me ensinou os caminhos para se gostar de ler e escrever, dos meus escritos de estranho formato, e perguntei, querendo um nome:
-         O que é pai ? Poesia será ?
Sem a preocupação que tinha eu, me disse ele que se poesia não fosse, era parente próximo:
-         ah ...é uma poesia-proseada.

Foi assim que me permiti imaginar que  meu olhar sobre o mundo,  minhas crônicas pessoais, finalmente encontraram um nome, com o que fica batizado esta primeira publicação.

                                             
                      Paulo Alexandre Faria Campos

                                                                                                                                                       Goiânia, 17 de dezembro de 2000



Breakfast
1991

O homem se contorce
E ainda é cedo.
Seu estômago se devora,
em frente à tevê.
Assiste meio desajeitado,
o Breakfast do governador,
que hoje será empossado.
Espertos de última hora dizem:
“Homem chamado carisma”.
E publicam livros de idolatria.
É o mundo das manchetes:
“Homem das mil casas em um dia”;
“homem das 500 mil pessoas na praça...”;
“Homem Carisma”,
que já foi,
um dia,
governador,
e se foi, sem deixar herança.
Mas este passado,
sem registro na tevê,
é agora mentira,
de um homem comum,
que não tem controle
sobre seu estomago voraz



Despedida
1991

Caminhou pelos campos
cheios plenos
das margaridas.
Havia a trilha,
uma espada de bárbaro,
um caminho,
para o cume das montanhas,
uma tarefa.
Antes,
Ofereceu a espada aos céus,
lá no alto
e desceu por entre a caverna.
No oco da terra encontrou
um pântano,
um gigante jacaré,
uma mulher,
um amor duradouro  .
Entrou  na água,
com medo e fascínio
por aquele jacaré,
tão imenso,
mas ao contrário,
da inteira vida,
teve calma e força
e com a bárbara espada
decepou a lenda,
buscou a mulher nos braços
e lembrou da saudade.
Não tinha porém
vontade sem fim
de estar ficando.
Carregou a duradoura mulher
até a entrada da boca da terra
e ali a deixou.
Retornou ao cume,
fincou a espada
e ajoelhou agradecido.
Seguiu as margaridas,
Trilha abaixo e foi-se
leve,
enquanto eu,
que tudo escrevi,
chorava por ele
que apreendeu a despedida.



Araguaia
1991

Começo a remar.
Se abrem os músculos,
dos braços,
dos punhos.
Início de viagem.
Navegar um rio
para conhecer outro.
Será possível,
poucos braços,
arrastarem tanta água ?
Cansaço.
Alguns já viraram a canoa,
e nem sabem,
que as vezes é bom
afundar um barco,
o seu barco,
para sonhar estórias no fundo  do rio,
e subir à tona
cheio de novidades.




O Nome
1998

Vampeta,
não parece nome de gente,
nem bom apelido é.
Mas este é o nome.

E é  Nazaré,
cidade pequena,
de um Estado qualquer,
a terra natal,
desse tal.
Pra lá que ele voltou,
Para comprar o velho cinema.

Veio da Holanda,
onde ganha dinheiros
jogando futebol.
De férias, em Nazaré,
viu seu   cinema paradiso,
ruindo, caindo, definhando.
Comprou e agora paga a reforma.
do contrário,
Cinema não  haveria.

Vampeta e seu cinema paradiso.
O nome,
o apelido, que seja,
quem o faz nobre
é a beleza de quem o tem.
Vampeta é o Nome.



Matuto Moderno
2000 

Eis o que sou,
Matuto moderno,
relógio lento,
voz com sotaque,
andar arrastado.

Nascido no mato,
mesmo que capital,
amando um café preto,
na xícara de esmalte,
matuto moderno,
eis o que sou.

Perto de amigos,
pregado nos amores,
mesmo quando a distância
dura cem dias,
matuto moderno,
eis o que sou.

Matuto mo fizeram,
moderno também.
Por isso gosto de roda de viola,
e me arrepio com a  Folia,
a do Divino.

Divina Folia que nem pede licença,
e vai entrando,
na minha vida,
na minha veia,
registrando o meu prazer,
moderno, novo,
recém encontrado.

Divina Folia,
que nem pede passagem,
como devia,
e anuncia minha história,
meu destino caipira.
Obrigado Folia.
Obrigado PAI.


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