Há muito surgiu um modo de escrita que exercito com especial prazer e que me invade quando algo do mundo me toca.
Não é poema. Prosa talvez, um pouco quebrada.
Um dia então mostrei algo a meu pai, que me ensinou os caminhos para se gostar de ler e escrever, dos meus escritos de estranho formato, e perguntei, querendo um nome:
- O que é pai ? Poesia será ?
Sem a preocupação que tinha eu, me disse ele que se poesia não fosse, era parente próximo:
- ah ...é uma poesia-proseada.
Foi assim que me permiti imaginar que meu olhar sobre o mundo, minhas crônicas pessoais, finalmente encontraram um nome, com o que fica batizado esta primeira publicação.
Paulo Alexandre Faria Campos
Goiânia, 17 de dezembro de 2000
Breakfast
1991
O homem se contorce
E ainda é cedo.
Seu estômago se devora,
em frente à tevê.
Assiste meio desajeitado,
o Breakfast do governador,
que hoje será empossado.
Espertos de última hora dizem:
“Homem chamado carisma”.
E publicam livros de idolatria.
É o mundo das manchetes:
“Homem das mil casas em um dia”;
“homem das 500 mil pessoas na praça...”;
“Homem Carisma”,
que já foi,
um dia,
governador,
e se foi, sem deixar herança.
Mas este passado,
sem registro na tevê,
é agora mentira,
de um homem comum,
que não tem controle
sobre seu estomago voraz
Despedida
1991
Caminhou pelos campos
cheios plenos
das margaridas.
Havia a trilha,
uma espada de bárbaro,
um caminho,
para o cume das montanhas,
uma tarefa.
Antes,
Ofereceu a espada aos céus,
lá no alto
e desceu por entre a caverna.
No oco da terra encontrou
um pântano,
um gigante jacaré,
uma mulher,
um amor duradouro .
Entrou na água,
com medo e fascínio
por aquele jacaré,
tão imenso,
mas ao contrário,
da inteira vida,
teve calma e força
e com a bárbara espada
decepou a lenda,
buscou a mulher nos braços
e lembrou da saudade.
Não tinha porém
vontade sem fim
de estar ficando.
Carregou a duradoura mulher
até a entrada da boca da terra
e ali a deixou.
Retornou ao cume,
fincou a espada
e ajoelhou agradecido.
Seguiu as margaridas,
Trilha abaixo e foi-se
leve,
enquanto eu,
que tudo escrevi,
chorava por ele
que apreendeu a despedida.
Araguaia
1991
Começo a remar.
Se abrem os músculos,
dos braços,
dos punhos.
Início de viagem.
Navegar um rio
para conhecer outro.
Será possível,
poucos braços,
arrastarem tanta água ?
Cansaço.
Alguns já viraram a canoa,
e nem sabem,
que as vezes é bom
afundar um barco,
o seu barco,
para sonhar estórias no fundo do rio,
e subir à tona
cheio de novidades.
O Nome
1998
Vampeta,
não parece nome de gente,
nem bom apelido é.
Mas este é o nome.
E é Nazaré,
cidade pequena,
de um Estado qualquer,
a terra natal,
desse tal.
Pra lá que ele voltou,
Para comprar o velho cinema.
Veio da Holanda,
onde ganha dinheiros
jogando futebol.
De férias, em Nazaré,
viu seu cinema paradiso,
ruindo, caindo, definhando.
Comprou e agora paga a reforma.
do contrário,
Cinema não haveria.
Vampeta e seu cinema paradiso.
O nome,
o apelido, que seja,
quem o faz nobre
é a beleza de quem o tem.
Vampeta é o Nome.
Matuto Moderno
2000
Eis o que sou,
Matuto moderno,
relógio lento,
voz com sotaque,
andar arrastado.
Nascido no mato,
mesmo que capital,
amando um café preto,
na xícara de esmalte,
matuto moderno,
eis o que sou.
Perto de amigos,
pregado nos amores,
mesmo quando a distância
dura cem dias,
matuto moderno,
eis o que sou.
Matuto mo fizeram,
moderno também.
Por isso gosto de roda de viola,
e me arrepio com a Folia,
a do Divino.
Divina Folia que nem pede licença,
e vai entrando,
na minha vida,
na minha veia,
registrando o meu prazer,
moderno, novo,
recém encontrado.
Divina Folia,
que nem pede passagem,
como devia,
e anuncia minha história,
meu destino caipira.
Obrigado Folia.
Obrigado PAI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário