A chegada do presidente da tourada é saudada pelos presentes. Logo uma solenidade registra a entrada dos toureiros e suas trupes: cada toureiro enfrenta dois touros na tarde/noite. Nas tardes de San Isidro, em Madri, entram na arena 6 touros. Há toureadores que não enfrentarão os animais, mas apenas vão ajudar a distraí-lo e cansá-lo. Eles aqui aparecem com capas rosa escuro, enquanto os toureiros virão sempre com uma capa vermelha, e em roupas com detalhes dourados incomparáveis.
Participam da cena os cavaleiros – seus cavalos têm imensas proteções, vermelho-alaranjadas- , que são os picadores: com longas lanças eles fustigam o touro sempre num único lugar e vão ajudando a minar a besta e a medir sua “competência“ para a batalha. E também os “banderilleros” que Irão cravar três pares de “banderillas” – como um tipo de bandeirinha com o mastro mais grosso e pontas afiadas – no animal , tudo para ir provocando e enfraquecendo o animal.
Tudo se parece com um espetáculo clássico do teatro, talvez um ópera: tem uma fidalguia em tudo. Há os lenços brancos: é com ele que o público conversa com o presidente da tourada, pedindo a troca do touro que demonstra fraqueza, exigindo que se pare de fustigar um animal quando há exagero e até pedindo pela vida do touro, quando ele demonstra bravura.
Posso dizer: eu fui as touradas de Madri, lembrando a música de Braguinha e Alberto Ribeiro. Numa tarde onde os touros estiverem meio lentos, logo na minha estréia, e os toureiros burocráticos, inclusive Morante de La Puebla, ídolo, grande toureiro segundo os espanhóis. Parecia que assim seria.
Pois foi na última peleja que vi algo, que nunca mais esquecerei: o touro as uns 15 a 20 metros do toureiro, provocado, embala. Dizem que nos primeiros 25 metros a arrancada é veloz como a de um cavalo. Quando, com seus 540 quilos, o animal estava próximo do toureiro, o jovem mexicano Arturo Saldivar, ousadamente, move a sua capa, da lateral esquerda do seu corpo para a lateral direita. O touro investe é contra a capa, não contra o toureiro. Este movimento, quando o touro já está muito próximo, faz com que o animal tenha que mudar de direção abruptamente, indo rumo à capa, n outra lateral. Como Romário no chute de Branco, que na copa de 1994 resultou em gol do Brasil contra a Holanda, Saldivar mantém a capa na posição, mas vira o corpo, e faz dele uma curva só, um arco, tirando-o do caminho do touro, em velocidade. Simplesmente sensacional. Uma dança, um drible.
O que fez a beleza da tourada não foi a agressividade do touro, mas a do toureiro, sua ousadia. Sua habilidade foi tão marcante quanto a de Romário na copa do mundo, mas, entre eles, uma diferença fundamental: para o mexicano Arturo Saldivar, errar seria morrer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário