domingo, 7 de agosto de 2011

Eu fui às touradas de Madri !!!!!

Era domingo de San Isidro, em  Madri, cidade bela com sua juventude  a todo instante nas ruas. Um cidade com os ares de festa.  Talvez porque fosse mesmo a semana da festa do padroeiro. Estamos na  Praça  de  Touros de Las Ventas,  como um palácio aberto ao público. Era uma tarde de início de verão,  de bom sol, mas muito vento, um certo frio, e senhores e senhoras de todas as idades, muitos já alem dos sessenta ou setenta, formando casais, com  almofadas especiais nas mãos – típicas de quem vem sempre às touradas. Gente bem vestida, com uma certa nobreza.

A chegada do presidente da  tourada é saudada pelos presentes.  Logo uma solenidade registra a entrada dos toureiros e suas trupes: cada toureiro enfrenta dois touros na tarde/noite. Nas tardes de San Isidro, em Madri, entram na arena 6 touros.  Há toureadores que não enfrentarão os animais, mas apenas vão ajudar a distraí-lo e cansá-lo. Eles aqui aparecem com capas rosa escuro, enquanto os toureiros virão sempre com uma capa vermelha, e em roupas com detalhes dourados incomparáveis.

Participam da cena  os cavaleiros –  seus  cavalos têm imensas proteções, vermelho-alaranjadas- , que são os picadores: com longas lanças eles fustigam o touro sempre num único lugar e vão ajudando a minar a besta  e a medir sua “competência“ para a batalha.  E também os “banderilleros” que Irão cravar três  pares de “banderillas” – como um tipo de bandeirinha com o mastro mais grosso e pontas afiadas – no animal , tudo para ir provocando e enfraquecendo o animal.

O touro mais presente nestas corridas é o Miúra, que se tornou uma mistura de raças de touros bravos da Andaluzia feita por Dom Eduardo Miura, mais ou menos na  metade do século XIX.  É a raça que mais já matou toureiros e que até já chegou a provocar uma greve de toureiros, que não queriam mais os Miúra na arena.  Alem da seleção genética, estes animais são especialmente criados para manter o seu estado natural de animais selvagens, inclusive evitando-se ao máximo o contato com  os humanos. São mesmo feras. Bestas. E isso dá para ver quando entram na arena.  Dá para ver também quando investem alucinadamente contra os cavalos com suas imensas proteções  vermelho-alaranjadas. O touro ergue o cavalo com os chifres, mas não consegue feri-lo, enquanto recebe de volta estocadas com as lanças dos  picadores.

Tudo se parece com um espetáculo clássico do teatro, talvez um ópera: tem uma fidalguia  em tudo. Há os lenços brancos: é com ele que o público conversa com o presidente da tourada, pedindo a troca do touro que demonstra fraqueza, exigindo que se pare de fustigar um animal quando há exagero e até pedindo pela vida do touro, quando ele demonstra bravura.

Posso dizer: eu fui as touradas de Madri, lembrando a música de Braguinha e Alberto Ribeiro. Numa tarde onde os touros estiverem meio lentos, logo na  minha estréia, e os toureiros burocráticos, inclusive  Morante de La Puebla, ídolo, grande toureiro segundo os espanhóis.  Parecia que assim seria.

Pois foi na última peleja que vi algo,  que nunca mais esquecerei: o touro as uns 15 a 20 metros do toureiro, provocado, embala. Dizem que nos primeiros 25 metros a arrancada é veloz como a de um cavalo.  Quando, com seus 540 quilos,  o animal estava próximo do toureiro, o jovem mexicano Arturo Saldivar, ousadamente, move a sua capa, da lateral esquerda do seu corpo para a lateral direita. O touro investe é contra a capa, não contra o toureiro.  Este movimento, quando o touro já está muito próximo, faz com que o animal tenha que mudar de direção abruptamente, indo rumo à capa, n outra lateral. Como Romário no chute de Branco, que na copa de 1994 resultou em gol do Brasil contra a Holanda,  Saldivar mantém a capa na posição, mas vira o corpo, e faz dele uma curva só, um arco, tirando-o do caminho do touro, em velocidade.  Simplesmente sensacional.  Uma dança, um drible.

O que fez a beleza da tourada não foi a agressividade do touro, mas a do toureiro, sua ousadia. Sua habilidade foi tão  marcante quanto a  de Romário na copa do mundo, mas, entre eles, uma diferença fundamental: para o mexicano Arturo Saldivar, errar  seria morrer.

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